quarta-feira, 16 de maio de 2012

O capitalismo selvagem e os consumidores desesperados

É fato conhecido que muitos consumidores jamais poderão adquirir a maior parte dos produtos e serviços oferecidos no mercado de consumo. Por mais que o sistema financeiro consiga, cada vez mais, oferecer crédito para uma ampla camada da população, muitos objetos do desejo dos consumidores continuam e continuarão inacessíveis.
Há muito a ser dito a respeito disso, mas o que interessa neste artigo é o elemento psíquico: o que o marketing, que oferece esses bens de difícil aquisição alimenta, de fato, é a frustração (Alguns entendem que a frustração é boa para o mercado, pois, como o consumidor não consegue preencher seu "espaço interior" adquirindo mercadorias, nunca para de comprar na tentativa - vã - de apaziguar sua alma).
Além disso, como esses consumidores – já frustrados ou que ainda se frustrarão – são seres humanos, têm, dentro de si, uma coisa chamada esperança. Daí, vivem a ilusão da possibilidade de um dia realizar seu sonho de aquisição – qualquer que seja ele.  Assim, de frustração em frustração o consumidor vai preenchendo o vazio de sua esperança; se olhar para trás, verá o quanto não conseguiu obter.
Mas, a esperança é forte e a ilusão também. Por isso, ele acredita na sorte e participa de todo tipo de jogos para ganhar prêmios (estes ironicamente chamados de "jogos de azar"): loterias, cassinos (quando e onde há), entra em concursos de todo tipo, adora promoções, sorteios, etc. Isto é, o consumidor é presa fácil das ofertas que prometem uma vida melhor e, de preferência obtida rápida e facilmente.
Visto desse modo, é possível afirmar que a esperança é uma espécie de "produto" não declarado e escondido por detrás das ofertas que abundam no mercado, dando sustentação à mensagem: a esperança de, passando um creme, ficar com a pele mais bonita ou mais saudável; de, usando um novo xampu, ficar com os cabelos mais sedosos; a esperança de, usando uma certa roupa, ficar mais bonito ou mais bonita ou de fazer sucesso com o carro novo; a esperança de, com todos esses apetrechos conseguir conquistar um grande amor; e depois constituir família; daí, adquirir a casa própria; pagar prêmios de seguros para garantir o próprio futuro e, também, o da família; poupar de forma adequada para conseguir chegar nesse futuro e ter tempo ainda de gozar a vida, etc., etc. O mercado oferece o futuro de uma vida melhor.
Mas, como eu disse, o consumidor tem pressa. Aliás, foi o próprio mercado que aumentou a velocidade das coisas, das compras e da própria vida a ser vivida: velocidade real e virtual; não há tempo para nada; nem se pode perder tempo algum. Recebe-se à vista e paga-se a crédito, a perder de vista. Não é incomum que o consumidor adquira um presente para o Dia das Mães num ano e acabe de pagar no mês anterior ao dia das mães do ano seguinte, quando, então, tem  de entrar em novo crediário. E, claro, isso vale para qualquer data e muitos produtos. Há consumidores que já nem tem mais o próprio automóvel, que foi vendido para fazer frente às dívidas por ele - automóvel - criadas e continua pagando as prestações de seu financiamento. Como é que diz mesmo a propaganda?: "Compre agora e só comece a pagar daqui a três meses". Esperança, com alguma coisa palpável...
Essas características são muito conhecidas dos fornecedores, o que torna o comportamento dos consumidores previsível. Ao calcular uma campanha promocional ou um grande evento, o empreendedor sabe, de antemão, com alto grau de probabilidade, qual será o comportamento do consumidor. Ele sabe, por exemplo, que, se mexer com certos pontos dos desejos, necessidades e interesses dos seus potenciais compradores obterá êxito na empreitada. Veja o caso do "feirão de imóveis" que uma grande instituição financeira faz todo ano (e realizou novamente no último fim de semana): por absurdo que pudesse parecer, sempre dá certo (Nesse 8º "feirão" foram movimentados mais de quatro bilhões de reais!).
O consumidor, desprotegido, é transparente, fácil presa desse tipo de iniciativa. Meu amigo Outrem Ego ao perceber que, na semana passada, estava anunciada mais uma promoção de venda de imóveis desse tipo, disse: "Sempre que vejo isso, me vem a imagem do marido que diz pra sua mulher numa sábado à tarde: 'Querida, vamos dar uma saidinha? Vamos até o shopping, pois eu preciso comprar uma gravata e vou te comprar uma bolsa. Depois, na volta, já que estamos no caminho, nós aproveitamos e compramos um apartamento de três quartos porque este aqui com dois está pequeno demais'".
É mesmo desanimador. O chamado "feirão da casa própria", promovido nos últimos anos, é um esquema de vendas que acabou vingando. Essa instituição torra milhões de reais em anúncios espalhados na mídia, num tipo de oferta que envolve o consumidor em seus temores, anseios e esperanças. Ademais, nessa questão, surge o problema da desinformação, pois o comprador está agindo contra as cautelas normais e necessárias que se exige nesse tipo de transação.
Tem razão o meu amigo: uma casa ou um apartamento não devem jamais ser comprados numa exposição de fim de semana, como se a pessoa estivesse comprando frutas na feira livre ou numa liquidação tipo queima de estoque de roupas ou sapatos.  A casa própria é, para a grande maioria dos consumidores, o mais importante (e mais caro) negócio da vida inteira. É a realização de um sonho e, por isso, deve ser tratado com a reflexão e o carinho que merece.
Indo numa dessas "promoções", o consumidor corre o risco de comprar um imóvel por impulso, sem qualquer avaliação objetiva, pois, quando chega ao local, sofre todo tipo de pressão e influência dos vendedores, cujo maior interesse é vender, fechar um bom negócio com polpudas comissões. Para o comprador, fica, às vezes, a frustração (mais uma e essa praticamente definitiva) de morar onde não tinha exatamente planejado e, ainda por cima, endividado pelo compromisso assumido de longo prazo (10, 15, 20 anos ou mais).
Ora, é fato conhecido que, antes de se comprar um imóvel, é preciso conhecê-lo, examinando-o para ver se ele atende às necessidades e expectativas. Deve-se vistoriá-lo não só de dia, no horário marcado pelo corretor ou vendedor, mas também em outro período, procurando conhecer as condições da vizinhança à noite – barulhos, trânsito, feira livre, etc. É importante conhecer a região para ver se ela oferece aquilo que o comprador precisa, como escolas, farmácias, supermercados, etc.
Aliás, esse tipo de operação rouba mercado dos próprios advogados, que deveriam ser sempre consultados antes do fechamento desse negócio. Não só há necessidade da produção e exame de certidões forenses e do Cartório do Registro Imobiliário, como da avaliação de todas as peculiaridades daquela específica operação jurídica. Por exemplo, a compra de imóvel por empreitada ou preço de custo ou feita pelo Sistema Financeiro de Habitação, etc. envolve aspectos bem diferenciados. Em alguns casos é preciso inclusive checar se não há projeto para desapropriação do local: se o imóvel está localizado numa rua importante ou perto de estrada ou área de manancial, etc. É preciso saber, ainda, em alguns casos, se a área não é de proteção ambiental, etc.
Lembro, naturalmente, que cada situação comporta componentes próprios de avaliação que devem ser levados em consideração, além das preliminares e genéricas que apresentei. As questões concretas e particulares devem, por isso, ser levadas a um advogado especialista que, como já disse, deve intervir em contratos de compra e venda desse tipo.
É uma pena. O capitalismo é muito selvagem, ganancioso e egoísta e o consumidor - vítima frágil do modelo - jogado a própria sorte, apresenta-se cada vez mais desesperado, correndo atrás do futuro  de bem-estar decorrente da aquisição de produtos e serviços que não chega (quero dizer, pelo menos não chega para muitos milhões de consumidores).
* Rizzatto Nunes Desembargador do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor.  
Esta matéria foi colocada no ar originalmente em 10 de maio de 2012. ISSN 1983-392X  
Extraído de http://www.migalhas.com.br/ABCdoCDC/92,MI155123,101048-O+capitalismo+selvagem+e+os+consumidores+desesperados

Você passaria em um teste de estresse financeiro?

Um dos maiores medos que ronda a economia mundial é a saúde dos bancos, se a situação piorar. Para tentar “diagnosticar” a situação, foi criado o chamado teste de estresse para essas instituições. Esse teste se resume em uma simulação de piora no cenário econômico com o objetivo de avaliar se as reservas dos bancos são suficientes para suportar uma recessão prolongada.
Alguns bancos na Europa não conseguiram passar pelo teste: alguns da Espanha, outros no Grécia e na Áustria. Outros foram aprovados por uma margem estreita ou, como diria no meu tempo de colégio, “aprovados pelo conselho de classe”. E você, que está lendo esse artigo, passaria em um teste de estresse financeiro?
Muito se fala da blindagem da economia brasileira, que as pessoas podem continuar comprando, entrando em financiamentos e que aqui está tudo bem. Mas vamos levantar algumas situações “hipotéticas” para que você possa avaliar a sua saúde financeira.
1) Quanto da sua renda hoje está destinada a pagamentos de parcelas e financiamentos? Um número saudável seria em torno de 30%. Por que só isso? Não podemos esquecer-nos dos reajustes anuais dos financiamentos e dos aumentos de preços de produtos e serviços em caso de inflação alta, como a que tivemos no início de 2011. Vivemos no país com as maiores taxas de planeta, jamais devemos nos esquecer disso.
2) Em caso de algum acidente ou perda de emprego, como ficariam as finanças da casa? Por quanto tempo a família poderia se manter sem uma entrada de dinheiro ou com receitas menores? Se esse número for menor que seis meses, você não passou no teste.
3) Quantas pessoas contribuem para a entrada de dinheiro na família? Se for apenas uma, como anda sua situação dentro do emprego? Se for um empresário, ele pode se dar ao luxo de tirar 20 dias de férias por ano? Ou ele não pode se dar ao luxo de nem pegar um resfriado?
4) Como estão os planos futuros de aposentadoria da família? Existe algum plano, alguma meta de ganho mensal, ou isso por enquanto não é prioridade?
5) Como estão os seus investimentos? Não só os investimentos relacionados a ganho de capital, mas também os investimentos na carreira. Se houver um abalo na empresa em que você trabalha hoje, conseguiria uma realocação com facilidade e rapidez? Como anda a sua empregabilidade?
6) Você já passou por algum momento de crise financeira? Se passou, acha que agora está melhor preparado para passar por uma nova crise semelhante (ou pior)? Ou acha que nunca mais vai passar por isso e que “agora é diferente”?
Se você sentiu algum “frio na barriga” ao responder a alguma dessas questões, parabéns! É sinal que você ao menos se conscientizou de que alguma coisa está errada com as suas finanças. Cabe agora rever alguns conceitos e práticas relacionadas ao seu dinheiro, agir e então refazer o teste daqui alguns meses – de seis em seis meses seria interessante.
Lembre-se que o resultado pode refletir na sua vida e na vida de sua família.

por Antonio De Julio – Instrutor da MoneyFit | www.moneyfit.com.br 

Fonte: site www.administradores.com.br


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Risco de calote na nova classe média é maior, diz economista

Autor(es): Por Alessandra Saraiva | Do Rio
Valor Econômico - 14/05/2012

O consumo em alta da "nova classe média" é insustentável em um horizonte de longo prazo e corre o risco de enfraquecer nos próximos anos. O alerta partiu do economista e diretor do International Growth Center, Claudio Frischtak. Em seu estudo "A Social-Democracia Brasileira: seu momento de definição", que será apresentado hoje, no primeiro dia do XXIV Fórum Nacional, o especialista ressalta que o aquecimento do mercado doméstico brasileiro tem sido alimentado por fatores como maior oferta de crédito para essa parcela da população, mercado de trabalho em alta, e programas de transferência de renda. Esses fatores operam com "grandes limitações" de sustentabilidade em prazos mais longos, na análise do especialista.
Em seu trabalho, o economista observa que, pela primeira vez na história, o Brasil se tornou um país de classe média, com a incorporação de cerca de 60 milhões de pessoas nesta categoria desde 1993 - em 2011, esse grupo representou cerca de 55% da população. Uma combinação de forte dinamismo do mercado de trabalho voltado para a base da pirâmide e transferências previdenciárias e de assistência social da ordem de 15% do Produto Interno Bruto (PIB), além de rápido crescimento do crédito, resultaram em expansão sustentada do consumo a um ritmo muito superior ao da própria economia. "Essa, em essência, é a social-democracia brasileira", resumiu.
Pelo lado do crédito, contudo, Frischtak observa que os bancos começam a entender somente agora os grandes riscos de inadimplência inerentes à concessão de financiamentos para a nova classe média. Isso porque, diferente da classe média tradicional, os novos entrantes nesse grupo não têm ativos tangíveis que possam ser usados para o pagamento de débitos em atraso.
Frischtak comenta que a antiga classe média, em casos de apuros de dívidas não pagas, sempre pode recorrer a uma espécie de "rede de proteção de ativos líquidos", como vender um carro, por exemplo; ou a parentes com ativos ou de renda mais elevada, que possam ajudar a lidar com problemas de inadimplência emergenciais. "Isso é um grande perigo para os bancos: as classes C e D que estão chegando agora na classe média não têm essa rede de parentes com ativos líquidos e já estão altamente endividadas", frisa. "A nova classe média não tem plano B [para resolver problemas de inadimplência]", completa. Isso conduzirá a uma gradual cautela dos bancos, nos próximos anos, na oferta de crédito barato a essa parcela da população.
Quanto ao mercado de trabalho, o especialista observa que a renda do trabalho tem crescido acima da produtividade. Isso, na prática, tem elevado os custos de produção do país. "Estamos nos tornando uma economia de custos elevados", resume. O fortalecimento dos custos da produção é repassado, em parte, para os preços, que tornam-se aos poucos menos convidativos para o apetite da nova classe média.
Já no campo da transferência de renda, Frischtak avalia que os programas neste segmento estão "no limite", e não devem continuar a crescer, no futuro, no mesmo ritmo de elevação dos últimos anos.
Para o especialista, é preciso reorientação de prioridades nos gastos do governo. Esta nova linha de ação passaria por reduzir a ênfase nas transferências de renda, e por um direcionamento dos recursos para o estímulo à produção de bens coletivos tangíveis, como obras de infraestrutura, e intangíveis, como educação. Recursos na formação educacional acabam por, indiretamente, contribuir para uma melhor qualificação profissional que, por sua vez, tem impacto direto na melhora da produtividade em diferentes campos da economia.
Ancorar o crescimento sustentável somente na continuidade do aquecimento do mercado interno não seria suficiente, diz Frischtak. Na análise do economista, somente ganhos de produtividade contínuos garantirão o crescimento sustentável da economia. "Mas a produtividade não cresce", alerta.

Fonte: https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/5/14/risco-de-calote-na-nova-classe-media-e-maior-diz-economista/noticia_view

sábado, 5 de maio de 2012

JÁ PENSOU SE ISTO PEGA...

"Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; e dirão aos anciãos da cidade: este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá."

Uma coisa é verdade, certamente teríamos bem menos problemas na sociedade e nosso gasto com segurança pública seria bem menor.